O livro Nós, os Media, de Dan Gillmor, não é propriamente uma obra-prima. Mas é um texto em progresso incontornável nos dias que correm.
Um dos maiores trunfos de Gillmor é centrar a sua escrita sempre na perspectiva de um jornalista, e não apenas na de alguém que acompanha a fundo as transformações que as novas tecnologias estão a emular no jornalismo. A páginas tantas, já na parte final, o autor recorda uma ou outra reacção de leitores que estranharam precisamente o facto de ele não ter despido a pele de jornalista para falar no fantástico mundo dos blogues, wikis ou RSS. Não despiu e fez muito bem.
É como jornalista que ele se mostra preocupado, sobretudo na parte inicial, com tendências recentes que estão a desvirtuar muita da prática jornalística contemporânea. Por exemplo, quando refere: «O jornalismo empresarial, que hoje é dominante, está a provocar a diminuição da qualidade para fazer subir os lucros a curto prazo: O que tem o seu lado perverso: tais táticas poderão acabar por nos destruir.»
Ou então, a fazer lembrar um pouco o que se passa no pequeno quintal mediático português: «As fusões tornam a situação ainda mais ameaçadora. Os grupos de informação estão a fundir-se para formarem grupos cada vez maiores. Em muitos casos, o jornalismo sério - e o serviço público - continua a ser a vítima. Tudo isto deixa um vazio informativo que os jornalistas, especialmente os cidadãos-jornalistas, estão a ocupar.»
A expressão "cidadãos-jornalistas" é uma constante em Nós, os Media. Gillmor vê-os como uma força emergente de enorme potencial. Tanto que poderão transformar-se em actores de primeira linha num palco até agora reservado quase exclusivamente aos jornalistas profissionais.
Neste particular, Gillmor traça uma prospectiva de alerta: «A produção de notícias e a reportagem do futuro serão mais parecidas com uma troca de ideias ou com um seminário. A linha divisória entre produtores e consumidores vai esbater-se, provocando alterações, que só agora começamos a antever, nos papéis de cada um dos grupos. (...) A evolução - do jornalismo como lição para o jornalismo veículo de trocas de ideias ou seminário - obrigará a um ajustamento por parte dos diversos grupos de interesses.»
São inúmeras as questões pertinentes que Gillmor levanta, sendo que algumas delas serão para ir aprofundando com o tempo. Mas uma das que talvez merecesse melhor análise neste livro tem que ver com os próprios conceitos de jornalismo e jornalista. Gillmor fala com frequência em cidadãos-jornalistas ou em bloguistas-jornalistas sem precisar bem, em termos teóricos, o que isso significa. Mas este é um debate que ainda agora está a começar.
Um dos maiores trunfos de Gillmor é centrar a sua escrita sempre na perspectiva de um jornalista, e não apenas na de alguém que acompanha a fundo as transformações que as novas tecnologias estão a emular no jornalismo. A páginas tantas, já na parte final, o autor recorda uma ou outra reacção de leitores que estranharam precisamente o facto de ele não ter despido a pele de jornalista para falar no fantástico mundo dos blogues, wikis ou RSS. Não despiu e fez muito bem.
É como jornalista que ele se mostra preocupado, sobretudo na parte inicial, com tendências recentes que estão a desvirtuar muita da prática jornalística contemporânea. Por exemplo, quando refere: «O jornalismo empresarial, que hoje é dominante, está a provocar a diminuição da qualidade para fazer subir os lucros a curto prazo: O que tem o seu lado perverso: tais táticas poderão acabar por nos destruir.»
Ou então, a fazer lembrar um pouco o que se passa no pequeno quintal mediático português: «As fusões tornam a situação ainda mais ameaçadora. Os grupos de informação estão a fundir-se para formarem grupos cada vez maiores. Em muitos casos, o jornalismo sério - e o serviço público - continua a ser a vítima. Tudo isto deixa um vazio informativo que os jornalistas, especialmente os cidadãos-jornalistas, estão a ocupar.»
A expressão "cidadãos-jornalistas" é uma constante em Nós, os Media. Gillmor vê-os como uma força emergente de enorme potencial. Tanto que poderão transformar-se em actores de primeira linha num palco até agora reservado quase exclusivamente aos jornalistas profissionais.
Neste particular, Gillmor traça uma prospectiva de alerta: «A produção de notícias e a reportagem do futuro serão mais parecidas com uma troca de ideias ou com um seminário. A linha divisória entre produtores e consumidores vai esbater-se, provocando alterações, que só agora começamos a antever, nos papéis de cada um dos grupos. (...) A evolução - do jornalismo como lição para o jornalismo veículo de trocas de ideias ou seminário - obrigará a um ajustamento por parte dos diversos grupos de interesses.»
São inúmeras as questões pertinentes que Gillmor levanta, sendo que algumas delas serão para ir aprofundando com o tempo. Mas uma das que talvez merecesse melhor análise neste livro tem que ver com os próprios conceitos de jornalismo e jornalista. Gillmor fala com frequência em cidadãos-jornalistas ou em bloguistas-jornalistas sem precisar bem, em termos teóricos, o que isso significa. Mas este é um debate que ainda agora está a começar.