29.9.07

Ciberjornalismo mais móvel e micro

Há duas palavras que começam a ganhar peso no vocabulário do ciberjornalismo: "móvel" e "micro".

O ELPAÍS.com acaba de lançar o Micrografias, um blogue com fotografias do dia-a-dia feitas a partir de um telemóvel (dica de Jornalismo Móvel). O autor, o jornalista Javier Castañeda, publicará uma imagem que «reflicta a vida quotidiana em constante movimento em torno de um tema.»

Enquanto isso, o "micro-bloguismo" vai somando adeptos. Cada vez mais bloguistas aderem ao Twitter, que permite o envio de entradas por email ou SMS. É de crer que os ciberjornais mais atentos às ondulações da Web não tardem a incorporar esta modalidade (o ELPAÍS.com foi o primeiro ciberjornal espanhol a criar o seu Twitter).

27.9.07

O Público espanhol

Numa altura em que tanto se fala de crise na imprensa e de jornais gratuitos, a Espanha vê nascer um diário pago, o Público, pela mão do grupo Mediapro.

Há algumas particularidades neste lançamento que merecem registo. A começar pelo perfil do director: Ignacio Escolar tem 31 anos e é um dos mais populares bloguistas do país. Novidade a nível mundial uma escolha deste tipo.

Goste-se ou não, Escolar vem com algumas rupturas na manga: diz, por exemplo, que o jornal não precisa de editorial, pois considera este género de artigo coisa do século XIX.

Depois, o novo diário diz logo ao que vem. Público assume-se como jornal de esquerda. A Mediapro é vista como próxima de Zapatero. (Pena que, em pleno século XXI, jornais "de qualidade" nasçam logo com rótulos políticos e, aparentemente, colados a estratégias estranhas ao jornalismo. Naturalíssimo, dirão alguns...).

O Público quer conquistar leitores jovens, que andam todos a fugir para o Hi5, MySpace e Second Life e pouco querem saber de tecnologias de papel. É compacto. Aposta num grafismo "fresco" e explora a infografia. É todo a cores. Tem uma redacção única (para o papel e para a web, uma aposta na convergência, portanto) de 140 jornalistas, quase todos na faixa etária do director. E só custa 50 cêntimos (o Público português custa quase o dobro).

Na versão online, ainda muito incipiente, o Público.es, é, em termos gráficos, semelhante ao ELPAÍS.com, mas um pouco menos comedido. Por exemplo, no tamanho, grande, das fotos.

No texto de apresentação do novo jornal, o director começa por citar o comediante Seinfeld.


Outras leituras:
Será que dá?
Público, a new quality spanish views-paper in a booming market

25.9.07

É preciso salvar a Internet?

Nos EUA, o debate está aceso. As grandes empresas de telecomunicações (Comcast, AT&T, etc.) são acusadas de estarem a pôr em perigo a "neutralidade da net", princípio fundamental que garante que todos têm as mesmas oportunidades quando utilizam a rede.

Por isso, grupos de utilizadores, entre os quais figuras públicas de peso, mobilizam-se em campanhas contra esta ameaça. No site Save the Internet, o problema é explicado em pormenor. Este vídeo, bem produzido, dá uma ajuda preciosa:

19.9.07

'Ciberjornalismo: dos primórdios ao impasse'

Na revista Comunicação e Sociedade, vol. 9-10, pp. 103-112, pode ser lido o texto, da minha autoria, Ciberjornalismo: dos primórdios ao impasse.

Resumo
«Os primeiros avanços no campo do jornalismo digital, em Portugal, têm sido lentos e assinalados por uma série de frustrações, algumas delas devido a expectativas utópicas em relação à viabilidade de alguns projectos. Contudo, e apesar de alguns obstáculos, novos desafios são impostos aos jornalistas profissionais. Destes espera-se que sejam capazes de lidar com as novas ferramentas da Internet e que contem as suas estórias usando novos recursos, tal como arranjem uma nova lógica para construírem os seus artigos. Começa a cimentar-se nos académicos que se debruçam sobre os media a ideia de que a formação de jornalistas especificamente para a área digital deve seguir regras diferentes, especialmente no que diz respeito a estórias em hipertexto e competências técnicas. O grande desafio deverá ser a formação de estudantes que pratiquem esta modalidade de jornalismo, sempre com o necessário equilíbrio entre as aptidões técnicas e a consciência ética e valores profissionais.»

18.9.07

New York Times todo de borla

Mais um passo importante na tendência de tornar completamente gratuito o acesso a todos os conteúdos dos ciberjornais: como já era esperado há algum tempo, o The New York Times deixou, hoje, de cobrar pelo acesso aos textos dos colunistas e a material de arquivo.

Outra novidade, desta vez relacionada com a "interactividade" com os leitores: o Times publicou a sua primeira vídeo-carta ao director. Foi produzida por um realizador de cinema, Charles Ferguson, a propósito de um artigo de opinião, publicado oito dias, de Paul Bremer, sobre o controverso tema do Iraque. A vídeo-carta dura 10 minutos e, para carta ao director, está, no mínimo, muito profissional.


A ler:
Conteúdos pagos: fim à vista?

16.9.07

'Crowdsourcing' e jornalismo: fracasso satisfatório

O professor de jornalismo Jay Rosen, da Universidade de Nova Iorque, resolveu, através da organização por si dirigida Assignment Zero, levar a cabo um projecto de crowdsourcing em jornalismo. Tema escolhido: crowdsourcing, precisamente.

Fala-se em crowdsourcing quando uma tarefa realizada numa organização é entregue a um grupo de pessoas. Neste caso, participaram 900, com o intuito de verificar «se grupos de pessoas dispersas trabalhando em conjunto voluntariamente através da rede podem produzir artigos sobre algo que esteja a acontecer e, dividindo-se nas tarefas, contar a estória completa».

O tempo é agora de balanço. Um dos êxitos da experiência: conseguiu transformar-se numa das mais completas fontes de informação sobre crowdsourcing.

Mas o balanço no que ao jornalismo concerne não é tão positivo. Segundo Jay Rosen, menos de um terço do material produzido tem a qualidade exigida.

Para Jeff Howe, da revista Wired (que também participou na experiência), tratou-se de «um fracasso altamente satisfatório».


A ler:
'Crowdsourcing' y periodismo: "Un fracaso satisfactorio"

13.9.07

Lista de investigadores/bloguistas em comunicação

Rogério Christofoletti, do blogue Monitorando, começou por fazer uma lista dos principais blogues de investigadores em comunicação no Brasil, juntando professores, mestrandos, doutorandos, investigadores em geral do campo da comunicação que mantivessem os seus blogues.

Agora, Christofoletti abre a lista (uma excelente ideia) a colegas de Portugal, Moçambique, Angola, Goa e convida «todo o mundo que fala a Língua de Camões» a constituir uma Lista Lusófona de Blogues de Pesquisadores em Comunicação. Está em construção e pode ser consultada aqui.

12.9.07

Expresso em mudanças

A edição online do Expresso está em fase de mudança e, por isso mesmo, tem tido alguns problemas técnicos. Miguel Martins, editor de Multimédia do semanário da Impresa, explica que no novo site (estreado no sábado passado), «as grandes apostas continuam a ser vídeos, fotogalerias, podcasts e interacção com os leitores.»

O Monde experimenta

O site experimental que o jornal francês Le Monde acaba de colocar online, o LePost.fr, é, de um ponto de vista da exploração das mais recentes tendências da Web (a chamada Web 2.0 ou Web social), interessante. Mas...

Os leitores podem criar a sua conta, blogar, publicar as suas próprias notícias, classificar, colocar etiquetas, interagir, personalizar, etc.. "le mix de l'info". As notícias são apresentadas, com vídeos do YouTube e Daily Motion à mistura, em formato blogue. O estilo de escrita é ligeiro e os títulos estão cheios de pontos de interrogação e exclamação.

A incorporação de ferramentas da Web 2.0 é aqui feita sem complexos e a todo o gás. Algo que o Le Monde.fr dificilmente poderia fazer sem ver afectada a sua aura de respeitabilidade. Um tipo que escreve "notícias" e coloca como sua a foto de uma figura dos Simpsons? Não resultaria.

O público-alvo do LePost.fr é outro. E aqui é que nos podemos interrogar sobre os possíveis caminhos do ciberjornalismo. Se, eventualmente, vierem a ser os que vemos nesta experiência (que não é única), temos razões para ficar preocupados. Acima de tudo, porque pressupõe um aligeiramento substancial, tanto na forma como no conteúdo, das notícias.


Outras leituras:
Le Post, nouveau venu parmi les sites d'information
LeMonde.fr lanza un medio filial para experimentar modelos editoriales

11.9.07

Tesouradas no jornalismo

A tendência está a acentuar-se em países com economias mais desenvolvidas: o outsourcing, a subcontratação e o offshoring estão a tornar-se práticas correntes de gestão na indústria dos média, jornalismo incluído. Consequência directa: diminuição de empregos.

Como nota Mark Deuze, conjugadas com a diluição (online) das fronteiras entre jornalistas profissionais e amadores, estas práticas empresariais acrescentam um novo marco no percurso da «reconsideração» do jornalismo.

O outsourcing (delegação de operações não cruciais a entidades externas às empresas) já foi criticado pela Federação Internacional de Jornalistas, que considera que esta prática mina a qualidade jornalística. O organismo teme que as empresas se transformem em «fábricas de produção de informação poupadoras de dinheiro».

Nesta matéria, não valerá muito a pena ter ilusões: a tendência acabará por afirmar-se também em Portugal. Estará a classe jornalística minimamente preparada e organizada para enfrentar mais este desafio? Duvido.


A ler:
Media Jobs And Digital Futures
Outsourced subbing: another signpost to the future?

9.9.07

Jornalismo e Internet em revista

Dada a muito escassa produção teórica sobre ciberjornalismo em Portugal, o lançamento de uma revista dedicada a esta temática não é um mero lançamento: é um acontecimento.

A revista Comunicação e Sociedade (número 9-10), da Universidade do Minho, apresenta-nos, a abrir, uma série de artigos de gente respeitada na área, a começar por Mark Deuze, que escreve sobre 'O jornalismo e os novos meios de comunicação social'.

A seguir, o dossier Dez anos de jornalismo online em Portugal, baseado numas jornadas que tiveram lugar na UM, em 2005. Textos de Rosental Calmon Alves, Helder Bastos, João Manuel Messias Canavilhas, Xosé López e Ramón Salaverría. Há ainda testemunhos de jornalistas portugueses ligados a ciberjornais.

Os contributos aqui recolhidos são de uma utilidade extrema para a compreensão do fenómeno ciberjornalístico em Portugal, e não só. Indispensável para investigadores, docentes, jornalistas e alunos de ciências da comunicação.