31.7.05

Asfixia mediática

Num país que mal lê jornais e em que estes são cada vez mais anódinos, superficiais, indistintos, domesticados, centralizados e empresarializados, a suspensão (belo eufemismo) de A Capital e de O Comércio do Porto é uma péssima notícia. Pior ainda para o Porto, cidade que tem vindo, paulatinamente, a transformar-se num deserto mediático e jornalístico.

É absolutamente escandaloso que o Porto não tenha estaleca sequer para segurar um canal próprio de televisão. A NTV foi o que se viu. Na rádio, anos antes, foi a vez de a Rádio Nova, que chegou a ser um farol de qualidade, ser transformada em mais uma juke box inconsequente, com meninas de voz melada a gerir play lists...

Na imprensa, o próprio Jornal de Notícias, o porta-aviões do Norte, já foi mais da Invicta do que é hoje. O Primeiro de Janeiro pouco se vê. As delegações das revistas e dos jornais de Lisboa, ou são simbólicas, ou foram alvo de desinvestimento, sobretudo editorial, nos últimos anos (Correio da Manhã e Diário de Notícias, por exemplo). O 24 Horas é para esquecer. E O Comércio do Porto acaba mal, às mãos de um grupo espanhol que se está nas tintas para 150 anos de história.

Resultado: a diversidade e a pluralidade (de notícias, de debates, de protagonistas, de ideias) vêem-se reduzidas e o mercado de emprego, bem como o de estágios, torna-se cada vez mais afunilado. O espaço público da região fica ainda mais pobre.

De um ponto de vista mediático, o Porto é hoje uma paróquia.


A ler:
O cemitério, de Vicente Jorge Silva
Sentença de Morte, de Manuel Pinto
Blogue OComerciodoPorto

29.7.05

Teleinternet

A entrada da televisão na Internet acabará por transformá-la. A teleinternet não será uma televisão de massas, mas antes a la carte. Permitirá complementar a oferta, necessariamente massificada, dos canais tradicionais.

Estas são asserções que servem de ponto de partida para um pequeno artigo que Francis Pisani escreveu no CiberP@is e que merece uma leitura atenta.

19.7.05

A 'videoblogosfera'

A onda dos videoblogues começa a ganhar dimensão e parece ter um potencial altamente promissor. O conceito do vlogue é muito simples: em vez de posts de texto, o videobloguista exibe excertos de vídeo.

Na revista Wired (dica do Ponto Media), pode ler-se um trabalho de Katie Dean sobre a emergência desta web trend, em que já se experimenta um pouco de tudo: o vereador de Boston que, no seu vlogue, responde a perguntas dos eleitores; um fulano que mostra como estrelar ovos num passeio escaldante; outro que conta histórias da sua terra natal; um outro que mostra o seu "show" noticioso diário; e há ainda o Clint Sharp, que exibe um programa semanal sobre tecnologia.

Na videoblogosfera (chamemos-lhe provisoriamente assim), tal como na blogosfera, vê-se muita criação individual que jamais passaria nos media audiovisuais tradicionais. Os vlogues, diz um analista citado na artigo da Wired, transformar-se-ão num complemento ao broadcasting tradicional.

Tendo em conta a experiência criativa e proveitosa dos blogues, não será difícil antever a explosão imaginativa que se adivinha à medida que a videoblogosfera se for expandindo e diversificando. O aperfeiçoamento do hardware e do software necessários aos vlogues tratarão, certamente, de facilitar a afirmação de novos talentos nesta área. Tal como aconteceu com os diários pessoais de papel, os vídeos caseiros passarão a ter um outro alcance, uma outra formatação, com a passagem para a Web.

A narrativa audiovisual, de muitas maneira balizada, por exemplo, nos canais de TV (que são media simultaneamente controlados e controláveis), ver-se-á liberta de quase todas as grilhetas. Os posts de vídeo serão o que os vloguistas quiserem, da forma que bem entenderem. Para o bem e para o mal, como nos ensina a história da Internet.

15.7.05

Vídeo no papel

O conhecido tablóide The Sun diz ser o primeiro diário britânico a fornecer blocos noticiosos em vídeo, que são produzidos especificamente para o Sun Online pela Press Association.

Cada bloco dura um minuto e meio e é actualizado quatro vezes por dia, embora, em casos especiais, a actualização possa ser feita mais frequentemente, como escreve Jemina Kiss, no journalism.co.uk.

Ora aqui está um exemplo a seguir por muitos outros jornais por esse mundo fora, com os de referência a terem aqui obrigações especiais. Um jornal online não pode, não deve, ser um mero repositório de conteúdos produzidos para o papel. O seu espaço de publicação é a Web, um meio multimédia, ou melhor, hipermédia, por natureza e excelência. Esta é uma certeza que, apesar de "histórica", permanece ainda ignorada por uma parte substancial do ciberjornalismo mundial.

É por isso que muitos sites noticiosos ainda são uma grande seca.

11.7.05

No olho do furacão

A propósito do furacão Dennis, ELPAIS.es elaborou um pequeno infográfico animado que nos coloca "En el ojo del huracán". Simples. Fantástico.

7.7.05

Londres e os media online portugueses

As explosões em Londres deram-se na hora de ponta matinal, por volta das 9. São quase 2 da tarde, ou seja, quase cinco horas depois das deflagrações. Vejamos como estão a reagir a este acontecimento muito especial alguns dos principais media noticiosos portugueses online:

Público.pt: dá informação actualizada, estilo agência noticiosa. Poucas imagens. Nenhum material multimédia é fornecido (ex., gráficos, áudio ou vídeo). Não são disponibilizadas hiperligações de contexto sobre o acontecimento. Algumas notícias abrem espaço a comentários dos leitores.

dn.pt: para o DN, não se passa nada. Abre-se o site, clica-se em "Última hora" e... nada. Londres bem podia estar a arder...

JN: nas "Últimas", tem três notícias curtas sobre o assunto, a primeira das quais colocada às... 12.12h. E nada mais.

Correio da Manhã: acordou às 10.59 para as explosões. Tem uma notícia única com comentários dos leitores no final. E uma fotozita para a amostra.

Expresso: Aqui encontramos de diferente, pelo menos, um infográfico com as estações de metro atingidas e uma galeria fotográfica. Vá lá...

Diário Digital: tem um "Especial Urgente", no que parece ser uma adaptação algo tosca da expressão "breaking news". Vários títulos dão acesso a notícias de agência. Não há fotos nem comentários de leitores. Para diário exclusivamente online, está mau. Muito mau.

Portugal Diário: Também não tem nada de especial. Texto, muito texto. Uma galeria de fotografias. Comentários de leitores. Paginas graficamente "secas". Sabe a pouco. A muito pouco.

TSF: Pela primeira vez, e naturalmente, som na Web. Da rádio, está claro. Quanto ao mais, estilo agência noticiosa.

SIC Online: Um infográfico! E depois muita Lusa, Reuters e France Press. Nem uns 15 segundos de vídeo que podia ser aproveitado dos canais de televisão do grupo. Fraquíssimo.

ELPAIS.es: é espanhol, eu sei, mas serve aqui apenas como mero contraponto cruel: tem vídeo, gráficos, galeria de fotos, cronologias, áudio, enfim, sem ser nada de extraordinário, deixa os nosso media online a anos-luz em termos de resposta na Web a grandes acontecimentos.

É evidente que há várias explicações concretas - que vão do desinvestimento por parte das empresas jornalísticas até à falta de investimento por parte de anunciantes - para a resposta medíocre dos media portugueses online. Quando não há meios, nem dinheiro, nem vontade, também não há milagres. Mas nem por isso se torna menos confrangedor verificar, na prática, o estado brutal de atraso destes media. É mais uma área para ajudar a colocar o país na cauda da Europa em quase tudo. Pessimismo high tech?

1.7.05

Unilateralismo na rede

Ora aqui está mais um belo exemplo do "multilateralismo" da actual administração norte-americana: as petições feitas pela União Europeia e pela América Latina para que o controlo das infra-estruturas básicas da Internet passe para as mãos de um organismo internacional recebeu uma resposta negativa por parte dos EUA, que actualmente controlam os servidores de raiz da rede mundial.

Segundo El Pais, a administração Bush anunciou que não entrega esta competência nem prescinde da tutela que exerce sobre o ICANN, o órgão de governo da Internet.