Mostrar mensagens com a etiqueta comunicação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta comunicação. Mostrar todas as mensagens

6.11.08

O outro, hoje mais próximo?

Em É Preciso Salvar a Comunicação, Dominique Wolton regressa a algumas das suas reflexões de longa data. Mais uma vez nos lembra que a proliferação de tecnologias, a par de fluxos tremendos de informação, não nos garantem automaticamente que estejamos a comunicar melhor uns com os outros.

Diria que, talvez, este paradoxo seja hoje particularmente visível nas redes sociais, onde a apresentação individual parece sobrepor-se à comunicação propriamente dita, aquela que pressupõe o real confronto de subjectividades, o encarar o outro.

Ou, como diria Wolton, tendo em conta o contexto mais vasto da comunicação global, «o outro, hoje mais próximo, mais acessível, tornou-se no meu igual. Ao mesmo tempo, a experiência da comunicação prova que é dificilmente atingível, e que todas as liberdades e todas as técnicas não são suficientes para eu me aproximar.» É o que ele chama de realidade antropológica da incomunicação, um dos temas mais fascinantes nos debates sobre comunicação.

Wolton reafirma também, no âmbito das dinâmicas entre os média e a sociedade, as suas preocupações com o atomização - potenciada pelas novas tecnologias, com a Net à cabeça, - dos indivíduos. Por isso, defende o papel dos média tradicionais como factores de coesão social.

Na "sociedade individualista de massas", as novas tecnologias «são eficazes no que respeita à liberdade, muito menos no que respeita à coesão social. São ao mesmo tempo individualistas e comunitárias, mas pouco colectivas e sociais. Para gerir estas duas dimensões, é preciso na realidade revalorizar o papel complementar, essencial, da imprensa, da rádio e da televisão que se dirige a todos. Tarefa indispensável no momento em que as nossas sociedades fabricam novos processos de precarização e segmentação.»

Para quem não leu as obras mais conhecidas de Wolton, como Elogio do Grande Público, Pensar a Comunicação ou E Depois da Internet?, É Preciso Salvar a Comunicação é uma excelente porta de entrada nas ideias deste autor, que não é propriamente conhecido por alinhar em modas ou euforias que por aí abundam.

28.2.08

6.1.08

Castells: "o poder tem medo da Internet"

«Porque Internet es un instrumento de libertad y de autonomía, cuando el poder siempre ha estado basado en el control de las personas, mediante el de información y comunicación. Pero esto se acaba. Porque Internet no se puede controlar.

Manuel Castells, em entrevista a El País

13.12.07

Novas técnicas, novas frustrações

«Depois da explosão da Internet, tudo se acalmará porque o dia tem 24 horas e as necessidades de comunicação do ser humano não se satisfazem completamente. Vamos atrás de um sonho. A comunicação humana é difícil e é um erro pensar que só a técnica ajudará a melhorá-la. Não é verdade. Criamos novas técnicas e nascem novas frustrações sobre as nossas expectativas de comunicação.»

Dominique Wolton, Ciberp@ís

Travessias na memória sobre Dominique Wolton:
Ser individual
Pensar a técnica


3.10.07

Blogues são para acompanhar

«Os blogs e todos esses sistemas novos podem parecer frágeis, pouco confiáveis e pouco sérios. Mas eles são uma demonstração da criatividade e inovação que está acontecendo fora do âmbito do jornalismo tradicional. Ao completar sua primeira década, o jornalismo online entra numa etapa de seu desenvolvimento onde é vital acompanhar de perto e estudar o significado dessas iniciativas que estão surgindo na medida em que a Revolução Digital avança e rompe os paradigmas tradicionais da comunicação. Se quisermos manter vivo o jornalismo independente e profissional, que é tão importante para a democracia, precisamos adaptá-lo ao novo ambiente midiático que está em formação.»

Rosental Calmon Alves, Comunicação e Sociedade, vol. 9-10

13.9.07

Lista de investigadores/bloguistas em comunicação

Rogério Christofoletti, do blogue Monitorando, começou por fazer uma lista dos principais blogues de investigadores em comunicação no Brasil, juntando professores, mestrandos, doutorandos, investigadores em geral do campo da comunicação que mantivessem os seus blogues.

Agora, Christofoletti abre a lista (uma excelente ideia) a colegas de Portugal, Moçambique, Angola, Goa e convida «todo o mundo que fala a Língua de Camões» a constituir uma Lista Lusófona de Blogues de Pesquisadores em Comunicação. Está em construção e pode ser consultada aqui.

29.8.06

Castells e a 'Mass Self Communication'

Já li e recomendo vivamente o texto A era da intercomunicação, publicado na edição brasileira do Le Monde Diplomatique. O autor é o conhecido professor de comunicação Manuel Castells.

Neste texto, Castells desenvolve o conceito de Mass Self Communication (a intercomunicação individual) e considera-o «uma nova forma de comunicação em massa - porém produzida, recebida e experienciada individualmente».

Tecnicamente, a Mass Self Communication «está presente na internet e também no desenvolvimento dos telefones celulares.»

(dica de Daniela Bertocchi)

31.10.05

PRISMA.COM: uma nova revista académica

Acaba de nascer a revista académica PRISMA.COM. Trata-se de uma publicação online dedicada à investigação na intersecção da comunicação, informação, tecnologia e artes. É propriedade da unidade de investigação CETAC.COM (Centro de Estudos em Tecnologias, Artes e Ciências da Comunicação), da Universidade do Porto.Conforme se pode ler na 'Política Editorial' da nova revista, aqui são publicados artigos de natureza teórica, ensaística ou de comentário e reflexão, bem como trabalhos monográficos nos domínios das ciências, artes e tecnologias da comunicação e da informação.

Trabalhos de natureza empírica, recensões críticas da literatura própria destes domínios, noticiário sobre actividades em curso ou a desenvolver, bem como entrevistas e outros materiais de carácter informativo e de divulgação nestas áreas do conhecimento, têm também o seu espaço.

30.10.05

Proulx e a comunicação

O canadiano Serge Proulx, sociólogo e professor de comunicação, esteve esta semana em Lisboa para falar de cibernética. Em entrevistas ao DN (Segunda-feira passada) e ao Público (hoje), o co-autor de A Explosão da Comunicação deixou alguns tópicos interessantes. Por exemplo:

«Na nossa sociedade há uma sobrecarga de informação e isso não se traduz automaticamente num crescimento da comunicação». Proulx defende uma refudação da educação para enfrentar a overdose informacional. «Estamos numa sociedade onde a comunicação é uma preocupação permanente, mas isso não quer dizer que comunicamos mais, no sentido da troca simbólica».

«O problema da comunicação é omnipresente. Tudo, hoje em dia, é comunicação, do comércio à política. Quanto ao desenvolvimento de uma ciência da comunicação, ainda não atingimos a maturidade. Estamos no balbuciar de uma ciência da comunicação». «Alguém conseguir ser eleito é cada vez mais uma questão de comunicação».

«Até 1995, o primeiro grande período da Internet, houve a expansão de uma cultura da liberdade. A partir daí, entramos na fase do mercado. Ainda estamos perante uma tensão entre dois pólos.»


A ler:
Informação a mais obriga à refundação da educação

28.9.05

Autoridade em causa

Artur Portela bateu com a porta na Alta Autoridade para a Comunicação Social, «em protesto contra o que considera ser a pressão do Governo para a alteração da metodologia de análise sobre a renovação das licenças de televisão.» (Público).

Portela explica que «o acto de um membro do Governo (Augusto Santos Silva) que convida o presidente de um órgão regulador - que é independente - para lhe dizer que as coisas devem ser feitas de certa forma e num determinado prazo, tem uma carga política».

A saída de Portela, numa altura em que a AACS está para acabar, vem adensar as suspeitas de intromissão do governo (sempre negada pelo mesmo) no processo de renovação das licenças dos canais privados, de modo a facilitar o negócio da venda da TVI ao grupo espanhol Prisa. A confirmarem-se, são gravíssimas.

Ora, este avolumar de suspeição tem, a prazo, pelo menos uma consequência: envenenar irremediavelmente o nascimento da Entidade Reguladora da Comunicação Social.

13.9.05

De leituras: a Internet e os homens arcaicos

Um dos traços mais preocupantes no que à evolução das novas tecnologias diz respeito é a forma acrítica com que elas são incorporadas pelas pessoas no seu dia-a-dia. Se é novo, se é prático, se é bem, se é barato... é bom. Use-se e abuse-se. O telemóvel é um bom e recente exemplo de como se pode passar, num ápice, da utilidade à febrilidade.

O turbilhão de novidades e gadgets associados ao emergir das tecnologias não deixa, em geral, grande espaço para reflexões críticas. Neil Postman demonstra-o, de forma cabal, no seu brilhante Tecnopolia. Torna-se, portanto, importante alertar para a necessidade de estarmos sempre atentos ao que dizem os "velhos do restelo".

Alain Finkielkraut e Paul Soriano são dois nomes que, para muitos, caberão naquela categoria. Ao primeiro, escritor e professor de filosofia em França, costumam os adversários chamar neo-reaccionário. O segundo dirige um instituto de prospectiva, virado para as questões da sociedade em rede.

As suas opiniões sobre a Internet estão reunidas no livro Internet, o Êxtase Inquietante, publicado por cá em 2002. Para tecnófilos militantes, esta obra será um amontoado de provocações. Para quem acreditar que da diversidade de opiniões nasce o interesse, é de ler.

Finkielkraut olha de lado para a revolução digital. E diz continuar desligado das "forças vivas", «mantendo as novas máquinas à distância, barricando-me de certa maneira no que ficou para trás, agarro-me à minha caneta, à minha papelada, e aos meus amigos queridos, os livros». Abomina o ecrã. Zurze quem acredita que a Internet na sala de aula "produz" melhores alunos. Teme o fim da privacidade e da intimidade, a vigilância omnipresente. Um resistente, portanto, ao «democrático total da técnica desenfreada». Como resistir a provocações deste calibre?

E explana assim: «A Internet é o perigo que corre a liberdade quando se pode conservar o traço seja do que for, mas é também o perigo que fazemos correr aos outros e a nós próprios quando gozamos de uma liberdade sem limites.»

E pergunta ainda o seguinte, de uma forma pertinente e de grande fôlego: «Apresentam-nos a Internet como um magnífico instrumento de informação e de comunicação, mas para quê tanta informação, tanta comunicação? E o lugar para o resto - para tudo o que na nossa vida não depende nem da informação nem da comunicação? Que lugar fica para a contemplação? Que lugar para a admiração? Que lugar para a ruminação? Que lugar para a solidão?»

Quem não gostar destas inquietações existenciais de Finkielkraut pode sempre responder, em tom pragmático, com aquela frase de uma canção dos U2: «You miss to much these days if you stop to think».

Soriano, por seu lado, preocupa-se com a invasão das "próteses técnicas" no meio ambiente humano, colocando-nos sempre disponíves, sempre acessíveis na rede, cujo tempo é «um eterno presente que é uma presença permanente». A rede, funcionando em registo de interrupção frenética, «aniquila os grandes momentos que estruturam a vida dos homens arcaicos».

Leia-se, ainda: «As próteses técnicas com que nos equipamos febrilmente (a começar pelo telemóvel) assemelham-se sob este aspecto às pulseiras electrónicas dos presos no meio da cidade.»

Em dois pequenos textos, Finkielkraut e Soriano levantam questões e colocam problemas que dão para uma boa discussão sobre as novas tecnologias, quase sempre alvo de adoração, poucas vezes objecto de discussão. A sério.