29.5.06

O armário do jornalismo II

O Público e o Diário de Notícias dão hoje, nas suas páginas de Media, dois bons contributos para o esclarecimento das relações entre agências de comunicação e jornalistas:

Agências tentam, mas jornalistas é que decidem
Jornalistas e agências de comunicação: O namoro conflituoso (Público)

24.5.06

O armário do jornalismo

A trovoada provocada pela publicação do livro de Maria Carrilho tem vários méritos. Um deles é o de permitir uma confirmação: o jornalismo tem, há muito tempo, montes de esqueletos escondidos no armário.

Alguns não são novidade alguma para quem conhece o meio por dentro (ligações pouco claras entre jornalistas, agências de comunicação, autarquias, partidos e clubes de futebol, "notícias" compradas, "prendas" dadas e recebidas, impunidade total no corrupio jornalismo-assessorias, comissários políticos colocados nas redacções, auto-censura, fretes invertebrados aos diversos tipos de poder (do governamental ao autárquico, passando pelo financeiro), incluindo por parte de administrações dos media, jornalistas transformados em mão-de-obra precária, pé-de-microfone, empacotadores de 'takes' da Lusa, fretistas voluntários ou à força, etc, etc..)

Os problemas mais graves, pouco debatidos abertamente pela classe e ainda menos escrutinados por quem quer que seja, estão, há muito, identificados. O maior problema, no entanto, continua a ser apenas este: o jornalismo ainda não descobriu um antídoto eficaz para eles.

E também não parece que isso vá acontecer tão cedo. Por uma razão simples: a profissão não está dotada, interna e externamente, de mecanismos eficazes de vigilância e punição das violações mais grosseiras dos princípios éticos e deontológicos. Foi de impunidade em impunidade que os esqueletos se amontoaram. De vez em quanto, lá aparece um Carrilho para abrir a porta do armário.


A ler:
Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses

22.5.06

De olhares: Mitterrand e o jornalista

É um passeio pela história pessoal e política de François Mitterrand, mas é também a história de um jovem jornalista confrontado com a tarefa esmagadora de escrever as memórias daquele que foi uma das maiores figuras da história da França do século XX.

Donde, Uma Viagem pela história, realizado por Robert Guédiguian, pode ser visto através de dois ângulos, ambos estimulantes: o político e o jornalístico.

De Mitterrand, o essencial é mostrado ou sugerido ao longo do filme: o passado político rico e nebuloso, a filha "clandestina", a personalidade forte e culta, a luta política feroz, incluindo com a sua própria família política, etc..

Já o jovem jornalista, empregado numa revista, é uma personagem hesitante, assustada e indecisa perante a figura do presidente da República. A tarefa de o biografar absorve-o de tal modo que acaba por se divorciar. Oscila entre o deslumbramento pela figura de Mitterrand e o imperativo profissional de o confrontar com a "verdade", sobretudo em relação ao passado de alegadas ligações ao regime de Vichy.

O filme, ao contrário do que se poderia supor, não é esmagado pela figura de Mitterrand (interpretado, de forma brilhante, por Michel Bouquet). O realizador opta por dar espaço também à personagem do jornalista. E às suas contradições.

15.5.06

De "cães de guarda" a "cães de colo"

«De todas as tendências lamentáveis que observo na imprensa dos EUA - viragem à direita das televisões, descida das tiragens dos diários, prisão de jornalistas, constante manipulação informativa - nada é mais perturbador do que o servilismo da imprensa no período que antecedeu a invasão do Iraque. Os jornalistas engoliram, sem fazer perguntas, tudo o que o Pentágono e a Casa Branca inventaram».

Esta frase, extraída de um texto todo ele demolidor para os jornalistas dos EUA, não é de nenhum anti-americano primário, de Freitas do Amaral versão pré-governo Sócrates, de um Carrilho fulo com os jornalistas ou mesmo de um escriba do Avante!

É de Helen Thomas, jornalista do grupo Hearst. A mais antiga correspondente na Casa Branca escreveu o artigo "Onde foi parar o nosso espírito crítico?" sem papas na língua. O texto pode, e deve, ser lido num recente número do Courrier Internacional (4 de Maio).

12.5.06

Watergates

Agora que o "Watergate francês", como lhe chama a imprensa, está ao rubro, mostrando a parte mais sórdida e sinistra da política contemporânea, é uma boa altura para revisitar Os Homens do Presidente.

Este filme, realizado por Alan J. Pakula, é um clássico absoluto na relação entre o jornalismo e o cinema e acaba, finalmente, de ser lançado em DVD no mercado português pela mão da Warner.

Um mergulho minucioso no jornalismo de investigação (o mais nobre, o mais desprezado...) e na podridão total do sistema na era Nixon.

E a história repete-se.

10.5.06

Jornais online crescem

E, no entanto, os jornais online movem-se...

«Apesar do contínuo declínio na circulação dos jornais diários em versão papel, os dados divulgados pela Associação de Jornais Diários norte-americana (NAA na sua sigla inglesa), referentes ao primeiro trimestre, mostram que o número de visitantes das versões online desses mesmos jornais está a aumentar de dia para dia.» (Público)

Há aqui dois sinais importantes para a imprensa norte-americana, e não só: a confirmação da tendência de queda dos jornais em papel, por um lado, e o aumento da captação de leitores através das respectivas edições online, por outro.

Também na Europa convém estar atento a estes indicadores. Para se ir percebendo que, mais do que fazer malabarismos, tantas vezes inúteis, com o papel, é necessário apostar de forma decidida e profissional nos bits informativos da Web.

A ler:
Jornais online em Portugal esperam por investimento

Retoma no ciberjornalismo

9.5.06

Canal Porto: quatro jornalistas

O Porto Canal, noticia hoje o Público, arranca no dia 23 de Junho, na TV Cabo. Funcionará em regima aberto, 24 horas por dia.

A boa notícia é acompanhada de uma primeira desilusão: o canal terá apenas quatro jornalistas. E a pergunta é óbvia: que raio de cobertura informativa se faz de uma região como a do Porto com quatro jornalistas?

4.5.06

Sol à vista

Primeira nota: Sol não é nome que se dê a um jornal que quer vir a concorrer com o Expresso. Sol é a palavra portuguesa para Sun, um tablóide inglês meio rasca que vende mais de quatro milhões de cópias por dia. Sol evoca clube de férias, agência de viagens, remédio vitamínico (lembra-me logo o Tonosol) ou jardim infantil.

Segunda nota: José António Saraiva promete «um jornal como nunca se viu». Era bom que assim fosse, pois os jornais portugueses no activo estão sem cartuchos para queimar. Mas, pelo que se viu na apresentação, o jornal é muito a cara do Expresso. Teremos mais do mesmo com embrulho novo?

Terceira nota: mal ou bem, é excelente que o Expresso tenha concorrência directa à porta. Quando há concorrência, o pó começa a esvoaçar por cima da cabeça dos muitos jornalistas instalados nas suas rotinas de fábrica de embalagem de notícias.

Quarta nota: o exíguo mercado de emprego vai mexer um bocadinho. Isso, é óptimo.

A ler:
Novo semanário 'Sol' quer fazer sombra ao 'Expresso'