29.8.06

Castells e a 'Mass Self Communication'

Já li e recomendo vivamente o texto A era da intercomunicação, publicado na edição brasileira do Le Monde Diplomatique. O autor é o conhecido professor de comunicação Manuel Castells.

Neste texto, Castells desenvolve o conceito de Mass Self Communication (a intercomunicação individual) e considera-o «uma nova forma de comunicação em massa - porém produzida, recebida e experienciada individualmente».

Tecnicamente, a Mass Self Communication «está presente na internet e também no desenvolvimento dos telefones celulares.»

(dica de Daniela Bertocchi)

28.8.06

Capa para recordar

Como o tempo passa... já lá vão mais de onze anos. Em Março de 1995, a revista Time fazia uma edição especial sobre um assunto estranhíssimo: o ciberespaço.

No topo da capa escrevia simplesmente: "Welcome to cyberspace". Daqui a cento e onze anos, será um clássico para coleccionadores.

22.8.06

A ler: "Online News"

Não é todos os dias que são publicados livros sobre ciberjornalismo que não se limitem a ser manuais do tipo "como escrever notícias na Internet". Disso, há aos montes.

Não parece ser esse o caso de Online News: Journalism and the Internet, da autoria de Stuart Allen, da University of West of England, Bristol. O livro acaba de ser publicado pela mão da Open University Press. O índice pode ser lido no blogue Online Journalism.

21.8.06

Notícias, salsichas e computadores

Sejamos francos: para boa parte dos patrões dos media, a verdadeira diferença entre uma grande notícia e uma boa salsicha é meramente residual. Por isso, para eles, esta será uma grande e promissora notícia:

«Primeiro foi a máquina de escrever, depois o fax, agora o serviço de noticioso dos Estados Unidos da América (EUA) encontrou uma maneira substituir os jornalistas nas redacções e está já a utilizar computadores que escrevem algumas das suas notícias.

A Reuters e a Bloomberg, líderes mundiais de informação, são os principais alvos da Thomson, que desde Março deste ano têm vários computadores a redigirem artigos de diferentes temas editoriais de forma satisfatória. Um resultado que faz antever a expansão desta prática. Os computadores trabalham de forma tão rápida que em apenas três segundos concluem o artigo que têm “em mãos”, permitindo à empresa ter uma eficácia puramente excepcional.» (Diário Económico)

Mário Crespo: jornalistas não questionam

Em geral, os jornalistas portugueses têm um sentido de autocrítica muito pouco apurado. Publicamente falando, ainda pior. Saúde-se, por isso, a clareza com que Mário Crespo responde ao JN a perguntas como estas:

«O jornalismo perdeu e quem ganhou foi a assessoria?

O jornalismo converteu-se numa indústria, está cada vez mais definido pelos custos e benefícios. É mais barato fazer uma primeira página com uma bela fotografia do que com uma prosa de investigação. Essas opções são conscientes. E o grave é que isso acontece na estação privada, e ela tem todo o direito, e na pública. Também o sector público opta pelo "tabloidismo". Há um sacrifício do conteúdo à forma. Não se investe em investigação.»

«Os jornalistas questionam pouco?

Não questionam, simplesmente. São capazes de pôr uma fotografia excelente e escrever afinal era "material bélico não letal". »


Eis uma entrevista substancial e oportuna a ler em plena "época tonta".

17.8.06

TV Cabo raso

A TV Cabo está cada vez mais pimba, vergada ao popularucho mais asqueroso, com laivos de esoterismo de pechisbeque. Agora dá antena, ou melhor, cabo, a todo o tipo de vendedores da banha da cobra.

A machadada mais recente foi acabar com o canal GNT, que ainda conservava alguma decência na programação, e substituí-lo por uns apresentadores aprumadinhos de risca ao meio, que só de ver assusta.

Kama Sutra, tarot, cartomancia, misticismo, tudo o que esteja bem longe da razão, é o que está a dar. É sabido que, como dizia outro, Deus morreu e Marx também. Mas convém não exagerar.

Um zapping noctívago pelos canais da TV Cabo é uma experiência deprimente. Não dá nada de jeito. Salva-se um ou outro canal, com a BBC World e o Mezzo à cabeça. E lá se foi, há muito, esse bom luxo de minorias que era o Arte. O dinheiro, como se sabe, não vai com a cara das minorias. E era nisto que Pacheco Pereira devia pensar um pouco antes de defender a ideia absurda de privatizar tudo quanto é canal em Portugal.

Pouco há a esperar. A lógica das audiências lucrativas é implacável. Telespectador é mero número burro para fazer monte. Portanto, o mínimo agora é fazer como o Jesualdo e mudar de clube. Ou então sair para o terraço e contemplar as estrelas de Agosto.

16.8.06

"Slow journalism" II

O experiente jornalista Seymor Hersh, da revista norte-americana The New Yorker, descobriu que Washington e Telavive "cozinharam" uma guerra no Líbano «muito antes» do início do conflito, há um mês, a pretexto do rapto de dois soldados israelitas pelo Hezbollah.

E agora pergunta-se: está este nível de "cachas" ao alcance do tal "fast journalism" - alimentado a doses cavalares de mão-de-obra inexperiente, barata e mal contratada - que esmaga hoje as redacções um pouco por todo o mundo?


A ler:
Israel planeou guerra no Líbano antes do rapto dos seus soldados (Público)

9.8.06

Em defesa do "slow journalism"

Já é bem conhecido o movimento internacional "slow food", que defende a boa comida tradicional contra a avassaladora "fast food" de plástico e gorduras em excesso. Comer não é apenas deglutir apressadamente. É também um ritual de degustação e prazer. E assim é que está certo. Viva a "comida lenta", portanto.

Depois de ler uma notícia que vem hoje no Público, acerca de dois jornalistas de investigação veteranos - conhecidos por publicarem pouco mais de duas grandes estórias por ano, algumas galardoadas com o prémio Pulitzer - dispensados pela revista norte-americana Time, fico com vontade de subscrever um abaixo-assinado a favor da criação do movimento "slow journalism".

"Slow jornalism": jornalismo com o tempo que for preciso para investigar a sério uma boa estória. Jornalistas com gosto pela degustação do rigor, do pormenor, da profundidade, da persistência, da descoberta daquilo que outros querem esconder do (bem) público. Jornalismo de "chefes de mesa" com a espinha no sítio para aguentar a pressão do piri-piri das manchetes. Jornalismo nos antípodas do "fast journalism" que por aí abunda, gordo mórbido de notícias requentadas, de press-releases encapotados e de fretes consumados.

4.8.06

Somos todos jornalistas?

Duas observações interessantes a reter do artigo Todos Somos Periodistas, disponível no EL PAIS.es:

Dan Gillmor, autor de Nós, os Media, considera que a imprensa tradicional vai continuar a ser necessária. Os bloguistas, diz, não querem (nem devem querer, diria eu) substituir os jornalistas. «O que acontece é que todos temos histórias para contar. E é inerente ao ser humano querer fazê-lo. Mas os jornalistas deveriam celebrar a participação dos cidadãos na criação de notícias e preocupar-se mais com o futuro da publicidade, já que vivem dos anunciantes e são estes os que realmente lhes podem causar danos procurando audiências em novas plataformas».

Nicholas Lemann, decano da Faculdade de Jornalismo da Columbia University, diz que que o jornalismo de cidadão ainda está longe de ser autêntico jornalismo, mas, potencialmente, «a Internet é o melhor meio que foi inventado para a reportagem».

A ler:
Todos somos periodistas
Amateur Hour. Journalism without journalists