Em É Preciso Salvar a Comunicação, Dominique Wolton regressa a algumas das suas reflexões de longa data. Mais uma vez nos lembra que a proliferação de tecnologias, a par de fluxos tremendos de informação, não nos garantem automaticamente que estejamos a comunicar melhor uns com os outros.
Diria que, talvez, este paradoxo seja hoje particularmente visível nas redes sociais, onde a apresentação individual parece sobrepor-se à comunicação propriamente dita, aquela que pressupõe o real confronto de subjectividades, o encarar o outro.
Ou, como diria Wolton, tendo em conta o contexto mais vasto da comunicação global, «o outro, hoje mais próximo, mais acessível, tornou-se no meu igual. Ao mesmo tempo, a experiência da comunicação prova que é dificilmente atingível, e que todas as liberdades e todas as técnicas não são suficientes para eu me aproximar.» É o que ele chama de realidade antropológica da incomunicação, um dos temas mais fascinantes nos debates sobre comunicação.
Wolton reafirma também, no âmbito das dinâmicas entre os média e a sociedade, as suas preocupações com o atomização - potenciada pelas novas tecnologias, com a Net à cabeça, - dos indivíduos. Por isso, defende o papel dos média tradicionais como factores de coesão social.
Na "sociedade individualista de massas", as novas tecnologias «são eficazes no que respeita à liberdade, muito menos no que respeita à coesão social. São ao mesmo tempo individualistas e comunitárias, mas pouco colectivas e sociais. Para gerir estas duas dimensões, é preciso na realidade revalorizar o papel complementar, essencial, da imprensa, da rádio e da televisão que se dirige a todos. Tarefa indispensável no momento em que as nossas sociedades fabricam novos processos de precarização e segmentação.»
Para quem não leu as obras mais conhecidas de Wolton, como Elogio do Grande Público, Pensar a Comunicação ou E Depois da Internet?, É Preciso Salvar a Comunicação é uma excelente porta de entrada nas ideias deste autor, que não é propriamente conhecido por alinhar em modas ou euforias que por aí abundam.
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