30.9.06

De leituras: notícias online

Há muitas e boas razões para ler o livro Online News: Journalism and the Internet, mas a profundidade da reflexão feita pelo próprio autor não é uma delas.

São poucos os parágrafos do livro em que Stuart Allan disserta, na primeira pessoa, sobre as questões abordadas. A obra, no entanto, é largamente compensada pela documentação exaustiva utilizada e pela chamada à discussão de uma plêiade de autores e de profissionais dos média que tornam esta leitura obrigatória para quem se interessa pelo mundo das notícias no ciberespaço e o seu impacto no campo do jornalismo.

Da ascenção das notícias online, que muito cresceram sob o impulso de acontecimentos de grande impacto global (11 de Setembro, atentados em Madrid e Londres, invasão do Iraque, furacão Katrina, etc.), ao nascimento e afirmação do bloguismo, do jornalismo participativo e o dos cidadãos, Allan, professor de media e jornalismo na universidade West of England, Bristol, percorre a história recente e ajuda-nos a cimentar o conhecimento nesta área. Leitura recomendada, portanto.


Outras leituras:
Nós, os Media, de Dan Gillmor
Online Journalism: A Critical Primer, de Jim Hall
Digital Journalism: Emerging Media and Changing Horizons of Journalism, de Kevin Kawamoto (ed.)
Web Journalism: Practice and Promise of a New Medium, de James Glen Stovall

28.9.06

Online Awards: o meu voto

É já na próxima semana que saberemos quais os vencedores da edição deste ano dos Online Journalism Awards. A categoria Outstandig Use of Multiple Media é das mais interessantes e tem apenas quatro finalistas.

O meu voto, se eu votasse, ia direitinho para a reportagem multimédia Rising from Ruin, do MSNBC, sobre a devastação deixada em Nova Orleães pelo Katrina. Uma reportagem capaz de nos dar uma volta de 360 graus à cabeça. Literalmente.


A ler:
MSNBC.com: multimédia a sério

25.9.06

Chostakovitch 'não passa' em TV

Se os nossos canais de televisão não estivessem tão embrutecidos como, de facto, estão, seria de esperar que hoje, dia em que se assinala um século sobre o nascimento do compositor russo Dmitri Chostakovitch, considerado um dos maiores compositores do século XX, exibissem algum programa, filme ou concerto a propósito.

A RTP, por exemplo, lá nas catacumbas dos arquivos, ainda deve ter a cópia de um filme, realizado por Tony Palmer, sobre a vida de Chostakovitch. No papel principal, temos um muito convincente e profissional Ben Kingsley.

O canal estatal passou esta fita, cujo título original é Testimony, há muitos anos. Ficaram-me boas recordações e uma grande vontade de descobrir a música de Chostakovitch. Não seria a noite de hoje excelente altura para uma reposição?

Qual quê... Temos, depois da meia-noite, E-Ring Centro de Comando, na RTP1, e a história de um elefante, na 2:. Nas privadas, nem vale a pena falar. As noites estão entregues à bicharada.

Ontem, no Público, um bom trabalho sobre a efeméride. Hoje de tarde, na Antena 2, o destaque devido, e conhecedor, a Dmitri Chostakovitch.

19.9.06

Expresso: notícias mais pequenas

O caderno principal do Expresso "grande" já não tinha muito que valesse realmente a pena ler. A versão "redux" do mesmo caderno parece ir pelo mesmo caminho, com a agravante da página minguada. O texto jornalístico está mais pequeno e mais bem arrumado. Só os anúncios parecem ter mantido o tamanho de antigamente.

Há qualquer coisa de muito errado quando chegamos ao fim de folhear os (apesar de tudo) melhores jornais portugueses e ficamos com a sensação de que eles nos dão tudo menos notícias. Notícias no verdadeiro sentido. Ou num daqueles sentidos que vem no dicionário: «aquilo que se ouve pela primeira vez».

16.9.06

Sol e sombra

Muito provavelmente, o Expresso e o Sol esgotaram hoje nos quiosques pelas razões erradas.

O primeiro, por causa do DVD de borla. Borla, em tempo de crise, é mel para os ouvidos de portugueses sobreendividados. Basta ter. Não é preciso ler.

O segundo, pela novidade. Estou ainda para vê-la no papel, pois, no Porto, o Sol desapareceu todo de manhã.

Na Web, no entanto, o Sol é o que se esperava e temia: pouco mais que uma montra do produto original. Lá temos uns blogues e uns fóruns para animar a coisa e pouco mais. A versão online nem sequer ficha técnica própria tem. Está tudo dito. É muito franciscano, este novo ciberjornal.

Se, como tudo indica, o grosso do Sol de papel for o que está despejado online, também não aquece nem arrefece em termos jornalísticos. O tom, os temas, o estilo, têm a marca indelével das décadas que António José Saraiva passou à frente do Expresso.

Posto isto, vamos dar tempo aos dois semanários agora concorrentes para ver se puxam um pelo outro nas coisas certas. Como na investigação a sério, por exemplo.


Outras leituras:
À sombrinha - primeiras notas, de Luís Santos

13.9.06

A face dos caídos

Bagdad está hoje a ferro e fogo. 60 corpos foram encontrados com sinais de tortura e quase 30 pessoas morreram num ataque contra a polícia. Para a generalidade dos ciberjornais portugueses, isto não está a ser notícia até agora (meio da tarde). Mas no Le Monde.fr, no New York Times ou no washingtonpost.com está.

No Post, vale a pena espreitar o trabalho Faces of the Fallen sobre todos os soldados norte-americanos mortos até agora no Afeganistão e no Iraque. São 2984. O jornal criou um registo com dados relativos a cada um deles.

Aviso: conteúdo verdadeiramente indigesto para neocons.

12.9.06

'Geração blogue' em livro

Foi publicado há pouco tempo por cá, pela Editorial Presença. O título escolhido, Geração Blogue, não é brilhante, mas Giuseppe Granieri parece agarrar no tema de uma maneira interessante. Pelo menos, é a impressão com que se fica depois de uma primeira e rápida vista de olhos.

Para já, aqui fica a sinopse:

«Apesar de ser um fenómeno relativamente recente, em poucos anos os blogues conheceram uma difusão extremamente célere na Rede, impondo-se como um novo modelo de comunicação que põe diariamente em contacto e em confronto pessoas e ideias, transformando a Internet numa imensa infra-estrutura de discussão, e criando uma comunidade cuja única regra é a relação. Partindo destas características, Giuseppe Granieri procura responder a questões que relacionam os blogues, a informação, os media, a política e a democracia, e as regras que gerem e filtram todo este enorme ecossistema. Sustentado por exemplos concretos e actuais, este é um livro indispensável para compreender e acompanhar a revolução que os blogues estão a operar, em tempo real, no nosso quotidiano e que desafia a nossa visão do papel das novas tecnologias na sociedade num futuro não muito distante.»

11.9.06

Perfil do jornalista nos EUA

Algo tem mudado no perfil do jornalista norte-americano ao longo das últimas décadas. Hoje, ele é:

* mais velho do que era há uma década (média actual de 41 anos)
* mais bem formado a nível universitário
* menos inclinado a ser democrata (no sentido usado nos EUA)
* mais bem compensado do que era há dez anos, mas com menor poder de compra


A ler:
The Face and Mind of the American Journalist

5.9.06

Colunistas ao Sol

Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas, Miguel Portas, Margarida Marante, Margarida Rebelo Pinto... o Sol parece déjà vu ainda antes de ter nascido. O povo, do Estoril a Cascais, vai adorar.


3.9.06

MSNBC.com: multimédia a sério

E que tal dar uma volta pelas ruas devastadas de Nova Orleães na Web como se estivesse com uma câmara de vídeo nas mãos a filmar a 360 graus? É isso que o site MSNBC.com permite em Rising from Ruin, um trabalho magnífico de exploração das potencialidades multimédia ao serviço da reportagem.

No fundo, é a concretização de uma possibilidade de que, por exemplo, John Pavlik, um autor de referência nesta área, fala há muitos anos (e nem sempre é levado a sério...): a utilização do vídeo a 360 graus como forma de envolver o leitor na narrativa. Neste caso, o leitor pode escolher, para além do ângulo de filmagem, os locais que prefere ver. Basta clicar num mapa.

Rising from Ruins tem também muito material de arquivo e contexto. Além disso, disponibiliza estórias contadas, através de slide shows de áudio, por cidadãos que sofreram na pele o Katrina e fornece 'diários dos cidadãos', uma espécie de blogue em que os residentes de Bay St. Louis e de Waveland contam o que lhes vai na alma.

(dica de Steve Outing)

2.9.06

Palmas e Bordoadas: no Expresso

Bordoada na foto de Pinto Balsemão a rasgar a capa do Expresso de hoje. De vez em quando, aos jornais foge-lhes o pé para o aumento do volume da voz do dono. O excesso de reverência vê-se nesta imagem como se tem visto na multiplicação de páginas no JN ou do DN, por exemplo, sempre que o patrão aparece na festinha de aniversário a dar uma de social com "figuras" convidadas. Não há necessidade. Resvala para o provincianismo. E os donos da loja deviam ser os primeiros a perceber isto.

1.9.06

O fim do dependente

O Independente teve o seu tempo. Morreu hoje, afogado em dívidas, processos em tribunal e poucos leitores. Poucos jornais contradisseram tanto na prática o seu próprio título.

Este semanário teve alguma piada no início. Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso introduziram um estilo nunca dantes visto na imprensa portuguesa, que, em 1988, ainda não contava com o Público. Casaram humor com notícias incisivas e manchetes "assassinas". Cavaco Silva que o diga, a par de ministros como Leonor Beleza, Braga de Macedo, João de Deus Pinheiro, Miguel Cadilhe ou Sousa Franco, entre muitos outros.

Depois, a frescura inicial começou a pender para a bandalheira jornalística. Portas disfarçava cada vez menos a utilização do jornal como (sua) mera rampa de lançamento para a refundação da direita portuguesa ou lá o que isso seja. Se tivesse ficado no Independente, teria sido óptimo para o jornal e ainda melhor para a salubridade do panorama político nacional. Mas não. E lá foi ele traulitar a sua cartilha para a política, arruinando o CDS para lhe colar as suas próprias iniciais. Deu no que deu.

O jornal que deixara entretanto para trás nunca mais se recompôs. Transformado num megafone de uma certa direita rendida ao altar dos negócios, foi atropelando tudo quanto era um mínimo de bom senso e respeito por regras deontológicas. Por exemplo, ficou célebre a transcrição, elevada a manchete, de uma conversa privada que Sousa Franco tivera à mesa de um restaurante.

A partir de certa altura, o jornal tornou-se pura e simplesmente intragável e ilegível. Foi, portanto, O Independente a cavar a sua própria sepultura.