Em plena crise - económica, publicitária, de vendas - temos um novo diário. É de saudar a coragem do grupo Lena, que veio criar dezenas de novos postos de trabalho e mexer, sobretudo em Lisboa, com o depauperado mercado de emprego jornalístico. Há algo de kamikase neste projecto. O que não é necessariamente mau. Mas algumas dúvidas se colocam:
Como eu gostava de não escrever estas coisas sempre que sai um jornal e um site de um jornal neste país. Não obstante, desejo as maiores felicidades a toda a equipa do "i" . O nascimento de um jornal é sempre um grande acontecimento em qualquer democracia.
- Para leitores, como é o meu caso, que vêm do tempo dos enormes jornais broadsheet, o "i" parece mais um suplemento do que um jornal propriamente dito.
- A organização do conteúdo, não por secções tradicionais, mas com rótulos como Zoom ou Radar, podem parecer modernos, mas não parece que ajudem muito os leitores a situar-se nos temas.
- Ao folhear os primeiros números do novo jornal, tive a mesma sensação de quando folheei as primeiras edições do Sol. E passo a recordar: «A edição de hoje do Sol folheia-se em cinco minutos. Não se pára em nenhum apeadeiro porque não aparece nada verdadeiramente estimulante para ler. No caderno principal, não há 'notícias duras'.» Déjà vu. Como fazer a diferença sem fazer a diferença pelo lado certo, o do jornalismo?
- Que leitores conseguirá o "i" captar e fidelizar? Irá roubar leitores ao Público? Mesmo estando em baixo de forma, o diário da Sonae pode dormir descansado. Aos jornais de economia? Pouco provável. Irá, então, conseguir descobrir a fórmula, que tantos perseguem, de pôr a rapaziada dos 18 aos 25 a ler jornais? É que uma "audiência qualitativa", como a que o director da publicação quer, é muito difícil de conquistar. O suplemento do New York Times também aqui não irá fazer milagres.
- Para quem está a começar, isso de não sair ao domingo tem algo de suicida...
- O "i", ao que tudo indica, será mais um jornal para alimentar sobretudo as fontes, os newsmakers, os colunistas, os comentadores, as realidades de Lisboa. Tal como acontece com a maior parte dos diários e dos restantes média generalistas.
- O grafismo do jornal não é, do meu ponto de vista, o mais estimulante ou arrojado para um projecto nado e criado em 2009.
- O site do jornal, bom, é mais um site de um jornal de papel a juntar a tantos outros.
Como eu gostava de não escrever estas coisas sempre que sai um jornal e um site de um jornal neste país. Não obstante, desejo as maiores felicidades a toda a equipa do "i" . O nascimento de um jornal é sempre um grande acontecimento em qualquer democracia.
Estou de acordo.
ResponderEliminarMas considero que sim, é uma boa aposta, penso que o jornal em papel nao vai acabar totalmente. E bom estas novas iniciativas. Mas vamos ver o tempo que vai durar.
Jorge Piuça
www.umavidabanal.blogspot.com
Segundo o director do "i":
ResponderEliminar"Duas razões levaram a que a equipa que dirige o "i" decidisse não colocar o jornal nas bancas ao Domingo. Martim Avillez Figueiredo explica: "77 por cento das bancas estão fechadas ao domingo. Só compra jornais quem os procura. Além disso, para sair ao Domingo seria preciso ter mais 33 por cento de pessoas a trabalhar para funcionar sete sobre sete dias. Isso seria absurdo financeiramente."
Isto dito por quem fez um investimento global de 10,4 milhões numa época de crise, e que prevê que o jornal gaste "3,5 milhões de euros com despesas de pessoal".
O que tem de bom? Para mim, só mesmo os 74 postos de trabalho que criou para os jornalistas!
Patrícia Lima
seraqueesteelectricovaiparaoceu.blogspot.com