9.8.06

Em defesa do "slow journalism"

Já é bem conhecido o movimento internacional "slow food", que defende a boa comida tradicional contra a avassaladora "fast food" de plástico e gorduras em excesso. Comer não é apenas deglutir apressadamente. É também um ritual de degustação e prazer. E assim é que está certo. Viva a "comida lenta", portanto.

Depois de ler uma notícia que vem hoje no Público, acerca de dois jornalistas de investigação veteranos - conhecidos por publicarem pouco mais de duas grandes estórias por ano, algumas galardoadas com o prémio Pulitzer - dispensados pela revista norte-americana Time, fico com vontade de subscrever um abaixo-assinado a favor da criação do movimento "slow journalism".

"Slow jornalism": jornalismo com o tempo que for preciso para investigar a sério uma boa estória. Jornalistas com gosto pela degustação do rigor, do pormenor, da profundidade, da persistência, da descoberta daquilo que outros querem esconder do (bem) público. Jornalismo de "chefes de mesa" com a espinha no sítio para aguentar a pressão do piri-piri das manchetes. Jornalismo nos antípodas do "fast journalism" que por aí abunda, gordo mórbido de notícias requentadas, de press-releases encapotados e de fretes consumados.

3 comentários:

  1. Caro colega Bastos,
    Sou de uma geraçao, nasci nos anos 80 e minha mae foi a televisao, onde a velocidade e as coisas para ontem sempre reinaram absolutas. Para falar a verdade sempre me senti um pouco deslocada dentro do jornalismo por nao conseguir acompanhar este "fast way of doing". Ja no periodo da faculdade sentia essa pressao e hoje em dia, até para publicar meus post pessoais levo um bom tempo. Deixo minha total adesao ao "slow journalism", assino embaixo mesmo. E espero poder consumir cada vez mais noticias amadurecidas, refletidas, pesquisadas. Poder apreciar aquele sabor mesmo tendo que publicar nossa indignaçao em um meio eletronico e "fast" como a internet. Fica o sonho!

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  2. Gostei da seu 'post' e da versão renovada do 'jornalismo de qualidade', q pelos vistos se denomina agora de 'slow journalism'.
    Novas terminologias para ideias que nunca deveriam ter caído em desuso.

    Mas é a 'civilização'... dá-se a volta e recuperam-se os 'velhos dogmas'!

    Jornalismo só deveria ser permitido, se de qualidade, tal como a publicação de um livro.
    Tb nesta área grassa a 'pop-light literature', para mal dos q gostam bem de ler e da formação de novos leitores.

    saudações

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  3. Pois, o distanciamento é necessário. E não tem que ser inimigo do directo, complementam-se.
    Mas que fazer quando a pressão financeira se traduz em equipas de Redacção desfalcadas, sem possibilidade de contar com gente mais especializada num ou noutro assunto? E quando a ordem de ideias vigente confunde rapidez com qualidade?

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