Se dúvidas houvesse sobre o estado de indigência editorial e financeira dos principais jornais portugueses, bastaria olhar para a quase total ausência de reportagem própria feita no sul do Líbano e no norte de Israel, onde o mundo tem, por estes dias, os olhos postos. Pelas piores razões.
31.7.06
29.7.06
Fragilidades dos jornais
A imprensa portuguesa está a passar um mau bocado? Está. Em parte, por culpa própria. Num texto publicado hoje, no Expresso, J.-M. Nobre Correia aponta alguns erros persistentes. A saber:
- Os diários vivem voltados para a Grande Lisboa e o Grande Porto, negligenciando o resto do país.
- As edições regionais, «no sentido forte da palavra, não existem, quando proliferam no resto da Europa».
- O «colunismo» é omnipresente. Proliferam os colunistas que «escrevem sobre tudo e sobre nada, a maior parte das vezes sem a mínima competência específica, por vezes até sem a mínima virtuosidade de escrita», ainda por cima «pagos a peso de oiro». Não posso estar mais de acordo com esta crítica.
- Política de títulos «mais ou menos estrondosa».
- Linha editorial incoerente, em particular nos jornais de «referência».
- Deficiente gestão da distribuição dos exemplares.
Estes e outros problemas, focados no texto Superar a fragilidade, levam Nobre-Correia a considerar que é «toda a concepção editorial e económica dos diários portugueses que tem de ser reequacionada».
Certo. Resta saber se existe nos jornais a força de vontade e massa cinzenta suficientes para a reequação.
Certo. Resta saber se existe nos jornais a força de vontade e massa cinzenta suficientes para a reequação.
26.7.06
Notícias gratuitas
João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, defende que «a fórmula que assegura o êxito dos gratuitos - notícias curtas, concisas e arrumadas num formato limpo e disponível em vários pontos de passagem do público - devia servir de bússola à imprensa em geral numa altura em que muito se fala da crise no sector ao nível nacional, europeu e até mundial.» (DN).
Se pensarmos exclusivamente em termos de vendas (e os jornais portugueses bem delas precisam), a ideia faz algum sentido. Ainda para mais quando a maior parte dos jornais serve, de facto, apenas para vender papel e fazer fretes políticos, económicos ou sociais. Portanto, é mais parágrafo, menos parágrafo.
Agora, aplicar a fórmula aos poucos jornais de referência, isto é, os que ainda têm alguma coisa para ler escrita em português, seria um suicídio. Para os próprios diários (imagine-se ler um Público inspirado no Metro ou um DN a aplicar as concisas do Destak...) e para os poucos cidadãos que ainda procuram no papel algo mais que a futilidade informativa das rádios e televisões do dia anterior.
Se pensarmos exclusivamente em termos de vendas (e os jornais portugueses bem delas precisam), a ideia faz algum sentido. Ainda para mais quando a maior parte dos jornais serve, de facto, apenas para vender papel e fazer fretes políticos, económicos ou sociais. Portanto, é mais parágrafo, menos parágrafo.
Agora, aplicar a fórmula aos poucos jornais de referência, isto é, os que ainda têm alguma coisa para ler escrita em português, seria um suicídio. Para os próprios diários (imagine-se ler um Público inspirado no Metro ou um DN a aplicar as concisas do Destak...) e para os poucos cidadãos que ainda procuram no papel algo mais que a futilidade informativa das rádios e televisões do dia anterior.
20.7.06
Palmas e Bordoadas: Visão
Palmas para o trabalho "O País Derrapado", de Alexandra Correia, na Visão. O tema não é novo, mas os números e as situações apresentadas (do Parque Mayer ao estádio do Algarve) são muito pertinentes:
«Incompetências, desleixos, negócios obscuros, megalomanias e o gosto pela ostentação são uma mistura explosiva na gestão dos dinheiros públicos. Retrato de um Portugal do desperdício, onde milhões voam e (quase) ninguém paga por isso.»
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19.7.06
A vez do New York Times
Nem os grandes, nem os pequenos, nem mesmo os maiores do mundo. Nenhum jornal parece estar a salvo de reduções de custos, diminuição de tamanho, cortes no pessoal.
O New York Times anunciou, ontem, que vai reduzir o formato e acabar com 250 postos de trabalho, que equivalem a cerca de um terço da sua equipa de produção.
Como refere o Diário Económico, o Times justifica a decisão afirmando que «muitos outros diários de referência também reduziram, recentemente, o seu formato. E acrescenta que outros, nomeadamente o “Wall Street Journal”, planeiam mais cortes para reduzir os crescentes custos do papel e impressão, numa altura em que os diários estão a perder leitores e anunciantes a favor da internet.»
É nesta última frase que devemos concentrar a nossa atenção.
A ler:
La dama gris, en minifalda
O New York Times anunciou, ontem, que vai reduzir o formato e acabar com 250 postos de trabalho, que equivalem a cerca de um terço da sua equipa de produção.
Como refere o Diário Económico, o Times justifica a decisão afirmando que «muitos outros diários de referência também reduziram, recentemente, o seu formato. E acrescenta que outros, nomeadamente o “Wall Street Journal”, planeiam mais cortes para reduzir os crescentes custos do papel e impressão, numa altura em que os diários estão a perder leitores e anunciantes a favor da internet.»
É nesta última frase que devemos concentrar a nossa atenção.
A ler:
La dama gris, en minifalda
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The New York Times
12.7.06
Jornais: fusão e reacção
Eis duas tendências a acompanhar de perto, pois estão a alterar a paisagem dos jornais e ciberjornais: a fusão de redacções (veja-se os casos recentes do Boston Globe, New York Times e Financial Times) e a reacção, sobretudo por parte dos diários, à ameaça concreta dos jornais gratuitos. Esta ameaça parece hoje ser bem mais séria do que seria de supor.
A ler:
El éxito de los gratuitos hace más visible la crisis de la prensa diaria de pago
A ler:
El éxito de los gratuitos hace más visible la crisis de la prensa diaria de pago
11.7.06
Terramoto nos diários dos EUA
A vida dos jornais norte-americanos, em particular os diários, não está fácil. Como nos conta Howard Kurtz, crítico de media do Washington Post, os media não param de multiplicar-se. Mas, ao mesmo tempo, o trabalho de investigação reduz-se «a olhos vistos».
Kurtz cita um estudo do Project for Excellence in Journalism em que os autores falam num «verdadeiro terramoto» na paisagem mediática dos EUA. Porque, «quem diz menos jornalistas, designadamente nos diários, diz menos investigação sobre o mundo político e sobre as empresas». Semelhanças com os diários portugueses?
De acordo com o mesmo estudo, «o mais ameaçado é o diário de grande difusão, que acabara por se impor em finais do século XX. Mesmo que não morram, os jornais e outros media vão perder terreno, o que parece traduzir-se numa diminuição dos meios consagrados à investigação da informação.» (Courrier Internacional).
Como bem lembra Kurtz, a questão é esta: o jornalismo de investigação sai caro e, por conseguinte, a quebra da circulação e as reduções de pessoal entre os jornalistas não auguram nada de bom, e não apenas para os gigantes dos media.
Se na pátria dos melhores jornais do mundo a coisa está assim...
De acordo com o mesmo estudo, «o mais ameaçado é o diário de grande difusão, que acabara por se impor em finais do século XX. Mesmo que não morram, os jornais e outros media vão perder terreno, o que parece traduzir-se numa diminuição dos meios consagrados à investigação da informação.» (Courrier Internacional).
Como bem lembra Kurtz, a questão é esta: o jornalismo de investigação sai caro e, por conseguinte, a quebra da circulação e as reduções de pessoal entre os jornalistas não auguram nada de bom, e não apenas para os gigantes dos media.
Se na pátria dos melhores jornais do mundo a coisa está assim...
9.7.06
Responsabilizar jornalistas
Num artigo publicado hoje, no Público, António Marinho, jornalista e advogado, aponta factores que minam por dentro o jornalismo português.
Tem inteira razão quando escreve que «não há um órgão de jornalistas que proceda a uma efectiva responsabilização dos que violam a ética profissinal» e quando defende a «criação de um órgão exclusivamente composto por jornalistas vocacionado para a defesa da liberdade de informação e para uma efectiva responsabilização ético-deontológica dos jornalistas portugueses.»
Enquanto isto não acontecer, a impunidade, a degradação profissional e o triunfo dos medíocres continuarão a crescer como ervas daninhas.
8.7.06
De leituras: blogues e jornalismo
«Apesar de considerar os weblogs uma componente vital de uma saudável dieta de media, no final, weblogs e jornalismo são simplesmente coisas diferentes. O que os weblogs fazem é impossível de ser reproduzido pelo jornalismo tradicional, e o que o jornalismo faz é impraticável fazer num weblog.»
Rebecca Blood, The Weblog Handbook
7.7.06
Público em crise
O Público, segundo o DN de hoje, está «num processo de reestruturação profunda que envolve mudanças gráficas, de conteúdos - com a fusão dos suplementos Y e Mil Folhas - e na redacção.»
Ainda segundo o diário da Global Notícias, José Manuel Fernandes escreveu uma carta a todos os colaboradores do jornal em que diz que o Público «atravessa um momento crítico» porque perdeu circulação e publicidade.
O Público «perdeu 4391 leitores no primeiro trimestre do ano relativamente ao período homólogo de 2005, com as vendas do jornal a situar-se nos 44 783 exemplares e os prejuízos nos 2,2 milhões de euros.»
O panorama daquele que é, apesar de tudo, o melhor diário português não é nada brilhante. E isso tem-se reflectido sobremaneira na qualidade do jornal que lemos todos os dias: o Público tem hoje menos "rasgo" e imaginação, é muito mais previsível do que era há uns anos, investiga muito pouco para o tipo de jornal que é, o peso dos acontecimentos de agenda aumentou consideravelmente, o caderno local do Porto está pelas ruas da amargura e até a fotografia e a infografia, outrora pujantes, se encontram em declínio.
Algumas mudanças recentes foram no bom sentido. A edição de domingo melhorou em termos de profundidade e a revista de economia aproximou-se, bem, dos bolsos do cidadão comum.
Mas, a par disso, foram tomadas decisões muito discutíveis, como a de acabar com o suplemento Computadores. Não devia ter acabado. Devia, antes, ter sido reforçado.
O país não ganha nada em ter uma imprensa diária de referência (a saúde financeira e jornalística do DN também está no estado em que está) no fio da navalha. O jornalismo, cujos constrangimentos são cada vez mais fortes, também não.
Esperemos que, nos próximos tempos, Belmiro de Azevedo alargue as suas vistas.
A ler:
José Manuel Fernandes quer "refundar" jornal
Travessias na memória:
Perda de Público
A Web social no Público
4.7.06
Expresso online de papel
O novo sítio do Expresso, anunciado com pompa pelo próprio jornal, não passa de uma operação de recauchutagem. A não ser o embrulho, pouco mudou. E pouco entusiasma.
Design algo deslavado. Predominância de texto. Pouca imagem. Uma secção de Multimédia quase toda à base de "slideshows" com som. "Serviço de notícias" da SIC, no que parece ser uma sinergia pouco convincente. Blogues com sabor a pouco (embora o da Direcção seja uma ideia interessante). Os fóruns, o podcasting, etc. já lá estavam.
Em suma, continua a haver demasiado Expresso de papel nesta versão digital. Ao fim de oito anos na Web, o Expresso Online ainda não tem alma própria.
Travessias na memória:
Expresso podcasting
Expresso multimédia
Expresso Online mexe
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